Chefão da Stellantis quer o Brasil no submundo dos carros
O português Carlos Tavares, chefão da Stellantis, que olha para o mundo a partir da poderosa Europa, disse esta semana que o Brasil não precisa de carros elétricos. Na visão dele, “o elétrico não faz sentido se comparado com o carro que pode rodar com 100% de etanol”. E completou: “Sem contar que é muito mais caro para a classe média”.
Carlos Tavares fez essa declaração em entrevista à repórter Marli Olmos, do jornal Valor Econômico. O CEO da Stellantis acrescentou que, apesar de ser contra, não deixará de oferecer carros 100% elétricos no mercado brasileiro: “Não pretendo deixar esse nicho de mercado para meu concorrente, então estarei lá também”.
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O que está por trás dessa declaração do chefe supremo da supermontadora Stellantis? Em primeiro lugar, uma tentativa de defender a liderança do aglomerado de marcas – Fiat, Jeep, Citroën, Peugeot, Ram, Abarth etc. – gastando o mínimo possível.
Afinal de contas, é confortável ser líder de mercado vendendo o Fiat Mobi com preços de R$ 68.990 sem um mísero rádio ou por R$ 72.990 na versão topo de linha (ou R$ 76.980 com os opcionais). Ou renovando ad eternum as benesses concedidas pelo poder público para produzir carros em Pernambuco.
Em segundo lugar está um olhar preconceituoso do europeu para a América do Sul. O olhar de quem vê este lado do mundo como um espaço para lucrar muito sem a necessidade de fazer os maiores investimentos para oferecer os carros mais avançados do mundo – em termos ecológicos e de segurança.
Lobby contra carros elétricos
Carlos Tavares é um executivo admirável, mas sua forte crítica à eletrificação dos carros no Brasil não tem nada de nobre. Faz parte de um poderoso lobby que se instalou no Brasil contra os carros elétricos e a favor da indústria do etanol como combustível. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) lidera esse lobby para que o Brasil permaneça quietinho no submundo dos carros.
Esse lobby liderado pela Anfavea conta com o apoio da Stellantis e da Volkswagen, entre outras montadoras, mas não tem a bênção da General Motors, por exemplo. Na contramão do lobby do etanol, a GM já avisou que não quer saber de carros híbridos no Brasil.
Enquanto a Stellantis se agarra à ideia do etanol aqui no Brasil, corre desesperadamente na Europa e nos Estados Unidos para recuperar seu atraso no desenvolvimento de carros elétricos. As marcas Jeep, Ram, Dodge, Chrysler, Fiat e Alfa Romeo não têm praticamente nada a oferecer no novo mundo dos carros elétricos. O Jeep Avenger ainda não começou a ser produzido e a picape Ram 1500 BEV não tem um calendário de lançamento.

A Stellantis, por enquanto, vive do trabalho que a Peugeot e a Citroën fizeram no segmento de carros elétricos quando pertenciam à PSA, sob direção do próprio Carlos Tavares. Que, por óbvio, não deve ignorar que a Weg, brasileira, é uma das maiores produtoras de motores elétricos do mundo; ou que a transnacional Rockwell vai construir uma gigafábrica de baterias e carros elétricos em Minas Gerais.
Nicho de pessoas ricas
Mas, se o etanol é tão bom, por que a Stellantis e a Volkswagen não fazem carros movidos 100% a etanol já? E se os carros elétricos são tão caros para a classe média brasileira, por que não oferecem soluções mais acessíveis nos carros atuais? Vamos combinar que um VW Polo Track, sem multimídia, a R$ 79.990, não é exatamente acessível.
Carlos Tavares critica o segmento de carros elétricos porque ele se dirige a um nicho de pessoas ricas das grandes cidades. É verdade. Mas quem compra um Fiat Pulse por R$ 100 mil ou um Volkswagen T-Cross por R$ 166 mil hoje não são exatamente pessoas de baixa renda. Eis tudo.
Carlos Tavares é bom de argumentos, mas sua visão sobre o Brasil e os outros países da América do Sul traz arraigada a prepotência do europeu quando olha para este lado do mundo: o Brasil como uma grande fazenda produzindo cana para carros atrasados e lucrativos do século 20; a Europa, os Estados Unidos e a China produzindo carros elétricos para a economia do século 21.
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